sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Concurso Transporte Caótico - Vencedores

Divulgamos aqui os vencedores do Concurso Transporte Caótico. E convidamos todos para a Audiência Pública do Transporte hoje, às 18h na Câmara de Vereadores, com concentração às 17h. As fichas podem ser retiradas pelos vencedores no dia 2 de setembro.

Vídeo - Coletivo Verde



Foto - Gabriela Garcia Viero




Charge - Felipe Bernardi




Texto - João Pedro Wizniewsky Amaral

A (FALTA DA) GOTA D’ÁGUA


A primeira semana de maio em Santa Maria obrigou todos a tirarem os casacos do armário. A segunda-feira do dia 02/05 foi a mais fria do ano, até então. E no campus da UFSM em Camobi, como todos já sabem, faz mais frio que no centro. Ainda mais de noite.


Nessa altura do ano, a partir das 19 horas já é noite. Mas foi no entardecer que a história começou. Às 18 horas e 30 minutos, na primeira parada da linha 196A – Universidade (na rua Vale Machado), além de mim, mais algumas pessoas aguardavam impacientes, esfregando as mãos ou tremendo as pernas. Todos esperando o trambolho laranja e branco que iria levar alguns dessas pessoas às aulas na gélida segunda-feira, que começavam provavelmente às 19 horas. Naquela hora, provavelmente o ônibus iria lotado, pois a frequência é menor em relação ao turno da manhã e os cursos noturnos aumentaram devido ao REUNI, o que significa mais passageiros. Contudo, isso tinha o seu lado bom. Quanto mais gente no ônibus, mais calor humano, e, consequentemente, aquela segunda-feira seria menos fria. Pelo menos no trajeto.


Nesse horário, das 18h30, o centro torna-se caótico, já que muita gente está saindo do trabalho ou buscando filhos nas escolas, o que também ajuda no atraso para se chegar à universidade. Mas a boa notícia daquele dia veio às 18h35: um carro da linha 196ª – Universidade / Faixa Nova. Todos na parada sabiam o que isso queria dizer: a viagem seria mais rápida, pois há menos fluxo de trânsito e terminais por esse trajeto.



Já no segundo ponto em que o ônibus parou, não havia assentos vagos e já tinham algumas pessoas de pé, mas ninguém dá muita bola. Já estão acostumados. Dos 30 minutos que geralmente se leva para fazer o roteiro, uns 5 minutos foi gasto praticamente só na avenida Rio Branco e na rua do Acampamento. Só foi entrar na avenida Fernando Ferrari para fluir o caminho e o céu ficar escuro.


Os passageiros daquele transporte público eram predominantemente estudantes, e faziam jus aos universitários: tinha de todos os tipos. Uns bem novos, provavelmente recém saídos do colégio; outros mais experientes, que saíram do trabalho para ir na aula; aqueles compenetrados revisando livros xerocados para, quiçá, uma prova que esfriaria mais aquele dia; amigas tagarelas que passariam a viagem inteira conversando e fofocando; outros mais relaxados, admitindo pro colega que não haviam estudado; uns muito bem arrumados; e aqueles desligados do mundo pelos seus fones de ouvido. O que tinham em comum era a vontade de chegar logo no campus.


No meio daquele barulho de motor, burburinho de conversas e da música baixinha no rádio do ônibus, não houve mais movimento. O dueto do motor com os frios cessou. Foi logo em seguida do complexo Dalla Favera, num local meio desabitado. O burburinho se intensificou. Da janela, via-se apenas postes de luzes distantes. O motorista tentou arrancar mais algumas vezes. Todas sem sucesso. As pessoas se olhavam, umas apavoradas. Um rapaz jogou raivosamente suas anotações no seu colo.


- Alguém vai dar um explicação? – gritou uma passageira


Não obteve resposta de ninguém, pois o cobrador logo saiu para parar um outro carro que levaria a tropa de universitários às aulas e o motorista ignorou. Contudo, a resposta veio logo em seguida num telefonema do motorista com alguém provavelmente da empresa:


- Acabou a água do radiador, vamos esperar outro carro – disse ele no telefone.


A cara de insatisfação foi geral. Foi a gota d’água o radiador estar sem água naquele frio e no escuro.


- Ah! Então é pra isso que a passagem vai aumentar pra R$ 2,30! Vão colocar água no radiador!! – bradou uma passageira indignada.


Minutos depois, chegou outro ônibus da mesma linha. Não foi tão rápido assim, pois naquela hora é mais difícil achar um que faça o trajeto pela Faixa Nova. No deslocamento de um ônibus para o outro, alguns quase caíram num pequeno barranco no acostamento. Precisou de uma boa visão e destreza para se ver, naquela escuridão, onde se podia pisar, já que havia muito barro naquele lugar também.


Mas enfim, alocando todos no outro carro, muitos que estavam sentados tiveram que ficar em pé, causando mais furor na massa. O clima frio tinha esquentado repentinamente. Mas que nada, já passou quando se chegou no campus. Às 19h25 o pessoal já saltava do ônibus em direção aos seus devidos prédios, sem se preocupar com problemas no transporte público e a iminência de um acréscimo na passagem.


Se o aumento da passagem é justificado para colocarem água no radiador, eu não sei. Tomara que sim, para que imprevistos assim não aconteçam mais. Esses ajustes no transporte público deveriam se dar de acordo com o desejo dos usuários, que se resumo em chegarem rapidamente, irem sentados, e poderem ir da localidade X até a localidade Y pagando uma passagem só. Sem água no radiador, o recurso mais simples de um meio de transporte, em torno de 80 pessoas não chegam ao seu destino. Imaginem agora sem a voz dos usuários, como se pode chegar a algum melhoramento?